Escrito por Jairo Marques
Assisti ontem pela primeira vez um vídeo que tá rodando nas internets chamado “A casa dos Autistas” produzido e encenado por humoristas da MTV, que tão mais por cima do que queijo em bife à parmegiana.
Sempre encaro as peças cômicas com o coraçãozinho aberto, afinal, graça é feita para rir e não para ficar pensando, matutando suas razões, fundamentos, ‘sacadas’ geniais.
Já escrevi aqui neste espaço um punhado de vezes que defendo o direito pleno à liberdade de expressão e que é a Justiça quem deve determinar o que ultrapassa o limite do bom senso e deve ser punido com indenização, com reparação moral, e tudomais.com.br
Sinceramente, apesar de muitos me verem como “representante” importante da classe dos ‘malacabados’, não falo jamais em reserva de mercado para nos defender de ser alvo de piada, de quadros humorísticos... Acho que, se tem fundamento, tem graça, tem elegância, tá valendo, sim...
Contudo, eu que me acho bem humorado, fiquei pasmo, embasbacado com o vídeo do “Comédia MTV”. Quem não viu, talvez seja importante bater o olho clicando no bozo.... http://www.youtube.com/watch?v=-1sFU_b9bt0&feature=player_embedded
Não convivo com nenhuma pessoa autista, conheço pouco do mundo em que vivem e seus perrengues, mas senti um asco violento ao assistir o quadro. Não por um puritanismo de querer criar um manto de proteção aos autistas, mas, sim, por achar que o quadro tem o sentido único de tirar graça do lugar comum, do estereótipo, do estigma que paira sobre as pessoas que batalham contra o transtorno.
As associações que visam incluir os autistas em sociedade e tentar quebrar tabus que as envolvem estão quebrando uma pedra danada para que deixemos de ver seus pares como lunáticos, gente esquisita, gente que deve viver apartada do convívio de todos.
Não vai demorar, pois me atrevo a dizer que conheço um bocadinho de mídia, alguém defender que o vídeo tem um “fundo” didático e quer desmitificar o autismo. Bem, louvável seria isso se houvesse uma explicação mínima durante o quadro, um debate, uma mensagem, o que não acontece.
A passagem mostra apenas os atores tentando provocar graça por meio de gestos repetitivos, gestos que, a meu ver, são de cunho particular do autista, de suas famílias e de pessoas que as compreendam minimamente.
Tendo a achar que os jovens e adolescentes que viram o quadro do “Comédia MTV” _exibido há cerca de um mês, mas que ganhou repercussão agora_ só reforçaram em si aquilo que imaginam que as pessoas com deficiência não são capazes de fazer ou que fazem de forma desajeitada, esquisita, mocoronga.
A minha convicção é que isso não agrega em nada. Agrega é mostrar o que os “diferentes” podem fazer igual ou melhor que os outros, mostrar que limitações existem, mas podem ser enfrentadas, redesenhadas e integradas nos meios sociais.
Um programa de imensa audiência nos EUA, o American Idol, tem entre seus finalistas neste ano um caboclo que possui autismo leve, juntamente com outra síndrome que afeta seu comportamento.
James Durbin é beeeeem doidinho durante suas apresentações. É agitado, irrequieto, fala mais do que a boca e até já fez propaganda da Pepsi, durante um programa ao vivo, patrocinado pela Coca-Cola. Mas, o que o show quer de fato saber é se ele tem ou não talento. E o cara, até agora, arrasou, quebrou tudo, cantando Rock and Roll. Saca um vídeo dele aqui.
Uma pena que a MTV, uma emissora que ajuda na formação de jovens, além de entretê-los, não consiga dar uma bola dentro em relação à inclusão. Gente talentosa, tenho certeza que há aos montes por lá.
Insisto que não se trata aqui de tornar uma “classe” de gente imune à comédia, à graça, à piada. Por essa lógica, eu mesmo estaria comprometido de seguir na batalha pelo domínio do mundo.
Mas fazer humor, pelo menos pensando nos grandes mestres como Chico Anysio, Jô Soares, Renato Aragão, Tom Cavalcante e outros, envolve inteligência, criatividade e respeito ao ser humano, fonte inesgotável de graça.
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