quarta-feira, 23 de julho de 2014

Mãe incentiva filho cego a caminhar, filma e vídeo repercute na internet

OBJETIVO ERA ACHAR PESSOAS NAS REDES SOCIAIS COM O MESMO DIAGNÓSTICO. 'CRIO COMO SE ENXERGASSE', DIZ MÃE EM JUIZ DE FORA.

Roberta Oliveira

Miguel e os pais conheceram Fátima Bernardes
 (Foto: Josiane Almeida / Arquivo Pessoal)


Muito surpresa e feliz. É assim se sente a dona de casa Josiane Almeida Santos Dias, de 31 anos, depois da repercussão de um vídeo que postou na internet mostrando o filho de 3 anos que é cego. Ela conta que, em abril, publicou na rede social um vídeo de Miguel indo buscar uma vasilha na casa da avó. O objetivo da postagem era achar outra mãe de criança cega para trocar experiências. No entanto, o caminho do menino cego pelo terreno desnivelado do quintal, chamou a atenção dos internautas e já supera os 52 mil compartilhamentos.



No vídeo de quase sete minutos, a criança fala que vai até a casa da avó buscar uma panela. A mãe incentiva o garoto a caminhar sozinho, mesmo sem enxergar, por um terreno cheio de obstáculos. Ela filma todo o percurso sem a criança saber que a mãe está por perto. Ele consegue subir escadas, pega a panela e volta para a casa. “Publiquei o vídeo para achar uma mãe com história parecida e achei várias outras pessoas. Algumas me disseram que já assistiram ao vídeo e não conseguiram tirar o Miguel da cabeça”, destacou.
A todos que entraram em contato, Josiane conta o que está funcionando na criação do filho. “Eu fico feliz porque quando estava desorientada, Deus me mostrou o que fazer e me 'disse': cria ele como se enxergasse. Você vai ter que levar ele, para que aprenda a ver com as mãos. É isso que eu digo a quem me pergunta”, afirmou Josiane.

Diante da repercussão, nesta semana, Josiane, o marido Paulo Fernando e Miguel participaram do programa Encontro, da apresentadora Fátima Bernardes, na TV Globo.

Doença 
A cegueira de Miguel foi descoberta após o “teste do olhinho” , feito dias depois do nascimento dele, em fevereiro de 2011. “Ele nasceu com glaucoma, catarata e descolamento da retina. Fez vários exames, ressonância, tomografia, ultrassom, para poder ver se tinha como fazer alguma coisa. Eu fiz consultas até chegar à conclusão de que não tinha jeito. Com um ano a gente parou de levar ele em médico”, contou Josiane.

Saber da deficiência do filho foi um susto. “Fiquei pensando como vou criá-lo, mãe de primeira viagem, não tinha quem me ensinasse como fazer. Eu gosto de ver coisas bonitas, céu azul, folhas verdes, céu todo cheio de estrelas. Quando recebi a notícia que ele não enxergava, fiquei chocada e pensei ‘meu filho vai viver na escuridão’”, disse. No entanto, a resposta ao susto veio através da fé. “Deus dá força. Se tirasse a presença Dele na minha vida, eu desistiria, entraria em depressão. Eu acredito que Ele me dá força para ajudar a cumprir o plano Dele na vida do Miguel”, afirmou.

O vídeo mostra algo rotineiro na vida de Miguel: brincar no quintal e ir à casa da avó paterna, no terreno onde mora a família, no Bairro Jardim Cachoeira, na região Norte de Juiz de Fora. “Ele vai lá desde os dois anos. No começo eu sempre ia atrás, quietinha, porque queria ver como ele se saía sozinho. Agora, confio, ele quer brincar, quer correr, fica lá fora”, contou Josiane.

Nesta jornada de aprendizado de mãe e filho, Josiane descobriu o incentivo que motivou a cena registrada em vídeo. “O que eu aprendi é que o deficiente visual gosta de se sentir útil. Eu vi que ele estava tristinho e pedi para ele buscar a vasilha na avó.

Tanto que no início ele nem queria ir, mas, com o pedido, animou e foi”, contou.

O vídeo realizou o desejo de Josiane, de encontrar outras famílias na mesma situação. E agora, através das redes sociais, ela compartilha a experiência com mães de crianças cegas de diferentes idades. “A mãe de um menino de um ano que também não enxerga e começou a andar me contou que está com medo de ele cair. E eu disse a ela que o mesmo tombo que uma criança que enxerga leva, o nosso vai levar. O Miguel cai, levanta, nem chora mais. Para ele é normal”, comentou Josiane.

Como toda criança pequena, por enquanto, na rua Miguel só vai com os pais. Josiane conta que não se descuida do filho quando saem. No entanto, a repercussão do vídeo trouxe um presente que vai ampliar o mundo de Miguel. “Um amigo das redes sociais mandou uma bengala de presente para ele. Eu fiquei muito feliz porque é a primeira bengala dele e, com ela, Miguel vai poder andar sozinho do meu lado”, comemorou a mãe. Josiane pretende procurar a Associação dos Cegos para ter umas dicas de como orientar o filho nesta etapa. “Ele é muito brincalhão, acho que ele vai ter que ficar um pouquinho mais sério para usar a bengala. No entanto, eu acho isso muito legal e ele vai conseguir”, disse, confiante.

E as novidades vão continuar com a realização de um desejo de Miguel. “Ele é doido para ir para a escola. Eu cuido de uma menininha de 5 ano e desde que ela começou a estudar ele quer ir também, para aprender a escrever, quer mochila nas costas e lanche”, afirmou. Josiane já se informou e a rede pública só aceita crianças a partir dos quatro anos. Então, vai inscrever o filho na rede pública de ensino no ano que vem.

As redes sociais também vão mudar a rotina da família em breve. Por causa do vídeo, amigos virtuais e reais se ofereceram para contribuir para melhorar o quintal da família. “Desde que o Miguel nasceu, eu parei de trabalhar fora, cuido dele e da casa. Por isso, com apenas o salário do meu marido, não tem como a gente fazer melhorias”, comentou. A campanha Ajude o Miguel já arrecadou, segundo informação publicada na rede social da mãe, R$ 2.853,12. 

“Com estes recursos, na próxima semana, os pedreiros vão começar os trabalhos para melhorar o quintal para ele”, disse Josiane.

Fontes: G1 - saci.org.br

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