Repórter SACI Voluntário, Élio Masatoshi Yoshikawa fala das condições de acessibilidade no Japão
Élio Masatoshi Yoshikawa*
Meu nome é Élio Masatoshi Yoshikawa, mas sou mais conhecido pelos amigos por Toshi. Tenho 20 anos de idade e estou morando no Japão há 3 anos. Antes, eu morava no interior de São Paulo, numa cidade chamada Mogi das Cruzes.
Atualmente, estou me tratando de um câncer chamado "Sarcoma de Ewing" que, infelizmente, me tirou os movimentos e a sensibilidade do peito para baixo. O tumor está localizado entre duas vértebras da coluna vertebral e se infiltrou na medula espinhal causando essas complicações.
Há poucas semanas, conheci a Marcela pelo blog dela, o Maré(http://tchela.blogspot.com/), e fui convidado a falar sobre a questão da acessibilidade aqui no Japão. Não tenho tanto conhecimento a esse respeito, mas tentarei passar um pouco das coisas que presenciei andando pelas ruas e freqüentando lugares.
O Japão oferece aos portadores de deficiência um grande apoio por parte do próprio governo e voluntários, que passam algumas horas por dia auxiliando e prestando os mais diversos tipos de serviços em hospitais ou associações formadas com essa finalidade. Esses voluntários são cadastrados e recebem orientações de superiores não prejudicando, assim, a pessoa que recebe ajuda.
Há programas semanais na TV orientando os portadores de deficiência (visual, física, mental, etc), auxiliando os seus familiares e alertando para os possíveis riscos e cuidados especiais que devem ser tomados, para que todos fiquem cientes de como agir diante de alguma situação embaraçosa.
Temos vários projetos que beneficiam os portadores de deficiência visual, além da presença, nos grandes centros, de calçadas dotadas de piso táctil. Um deles é o treinamento de cães da raça "labrador", para que possam auxiliar essas pessoas em muitas tarefas, principalmente caminhar pela rua e utilizar o transporte público. É um processo demorado e feito em sua maioria por voluntários, que dividem as tarefas: famílias que possuem crianças pequenas cuidam dos cães quando filhotes para ele se acostumar ao ambiente familiar. Depois de alguns meses, outra pessoa pega o cão para caminhar várias horas por dia, para deixá-lo apto a orientar o seu futuro dono.
As calçadas possuem guias rebaixadas para os cadeirantes e há estacionamentos especiais, embora o grande fluxo de bicicletas no país deixe a desejar a eficácia do projeto, levando o cadeirante a dar voltas desnecessárias para chegar a um ponto específico.
Um grande passo foi dado com uma lei que obriga as estações mais movimentadas a oferecer acesso fácil aos cadeirantes. Muitas estações que não possuem elevador adotaram um tipo de carrinho que fica nivelado à escada para transportar o cadeirante ao segundo andar, e alguns ônibus possuem um aparelho semelhante, que desloca o cadeirante para dentro do ônibus.
As empresas ferroviárias são muito pontuais, chega a ser assustador, a não ser no inverno quando os trilhos ficam cheios de neve e o trem permanece, esporadicamente, parado por alguns minutos. Se o trem estiver muito adiantado, pára em algum ponto, até ficar dentro do horário. As estações de trem localizadas em regiões pouco movimentadas não possuem os devidos aparelhos. Nesses casos, os funcionários da empresa são obrigados a prestar uma ajuda para que a pessoa possa utilizar o trem. Se ela ligar antes avisando que vai para lá, o serviço é bem mais rápido, pois já colocam alguém em alerta, aguardando a sua chegada.
Fui informado que depois de comprovada sua deficiência, a pessoa adquire uma carteirinha na prefeitura da cidade onde reside, que lhe dá direito de descontos em muitas coisas e, principalmente, em transportes públicos e privados, levando em conta que aqui se paga pela distância da viagem. Dessa forma, os preços de uma estação para outra pode variar muito, e isso serve para os ônibus também.
A estrutura do país é bem moderna: as casas são adaptadas e deve ser garantido que elas suportem terremotos um tanto fortes. Para tudo isso, tem-se um preço nada doce, e acho que os portadores de deficiência devem receber algum tipo de apoio ou ajuda na hora de comprar suas casas, pois é comum se deparar com casais de cadeirantes ou deficientes visuais morando em suas próprias casas.
A ajuda alheia e as associações facilitam muito a vida dos portadores de deficiência, mas é fundamental que todos tenham capacidade e sensibilidade de sentir a força de espírito que essas pessoas carregam.
* Élio Masatoshi Yoshikawa, o Toshi, tem 20 anos e perdeu os movimentos e a sensibilidade do peito para baixo, devido a um câncer. Para entrar em contato com ele, mande um e-mail para tsuki_na_hiraki@hotmail.com ou acesse seu blog em http://yoshikawa.blogspot.com/.
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